sexta-feira, 20 de março de 2015

III. Xamanismo e Sagrado Feminino

Boa tarde, amados!

Compartilho o terceiro artigo da série sobre o Xamanismo, o tão esperado Sagrado Feminino, possivelmente o próximo será Xamanismo no Mundo, a série vai continuar sendo postada quinzenalmente, porém as postagens do blog agora serão semanais pelo aumento do fluxo de conteúdos!

Em breve postagens também sobre vegetarianismo e veganismo, e resenhas de alguns produtos naturais. :)

Clique para ler a Introdução ao Xamanismo.

Bons estudos! Aho!

III. XAMANISMO E SAGRADO FEMININO





Após esclarecidos os principais temas dessa série que é o introdutório ao Xamanismo e sua mais forte característica que é a Enteogenia e a expansão de consciência, vamos falar sobre um tema muito bonito e muito diverso que permeia também sobre as culturas xamânicas, o Sagrado Feminino.

Porque o Sagrado Feminino é algo tão forte no Xamanismo? Pela sua origem nas civilizações tribais, daí encontramos a origem do Sagrado Feminino, se é que pode-se dizer que ele um dia foi "criado", creio mais que ele seja algo que sempre existiu em si mesmo e que para sempre existirá.

No princípio, quando o ser humano não possuía a racionalidade desenvolvida como se dá nos dias de hoje, todas as suas práticas e ações se davam por instintos, intuição e observação da natureza, assim como hoje vivem os animais, e algumas tradições indígenas que tentam preservar esta conexão natural. Desta forma viviam a base de um dos primeiros sentimentos mais naturais, o medo, especialmente o medo do desconhecido (tão enraizado em nós até hoje) e foi assim que os humanos foram aprendendo a rezar, o principal medo era de que o Sol não voltasse a aparecer, e assim foram sendo criados rituais para honrar ao Deus Sol, para que o povo nunca tivesse que viver na mais profunda escuridão.

Em algum momento na pré-história ocorreu que começaram a se questionar sobre a origem de si mesmos, dos animais, e assim, do Universo. Observando a natureza e o que havia em comum entre ela e os humanos, percebeu-se que o ser fêmea era aquele que tinha o poder de criar, de conceber uma outra vida, logo, a mulher foi talvez tida como Deusa, a detentora dos mistérios da criação, afinal, de início não percebeu-se de cara qual era a participação do homem no processo de gestação, e sendo assim, sendo a mulher a criadora da vida, seria ela a mesma que também ceifa a vida daqueles que não merecem mais estarem na Terra por alguma razão, a mulher era temida e respeitada, mas muito mais reverenciada. Além dos animais (que muitos têm órgãos reprodutivos semelhantes aos dos humanos), a flora, as montanhas, as paisagens, tudo passou a ser associado com o feminino, porque em verdade, assim o é, a natureza é primordialmente feminina, gestadora.





Um dos maiores mistérios femininos a ser observado no princípio da história: ela sangra! Quem nunca ouviu aqueles velhos ditados do tipo "como confiar em alguém que sangra por 7 dias e não morre?", havia de ser algo muito sagrado mesmo (deveriam pensar os homens pré-históricos), e assim a primeira ideia do que seria uma Divindade foi associada obviamente ao feminino, e assim por anos e anos foram as sociedades matriarcais ou matrifocais, enquanto os seres humanos iam desenvolvendo-se intelectualmente.


Daí a associação com o Xamanismo, porque afinal, sendo o Xamanismo o princípio de toda a religiosidade, o mais intrínseco e inato culto a Divindade-Natureza, a Mãe-Terra, só podemos dizer que o Sagrado Feminino é parte fundamental do Xamanismo e que a partir dele é que foram criando-se rituais e doutrinas de culto ao Feminino Sagrado.

O Sagrado Feminino jamais pode se limitar ao ser humano mulher, pois é muito mais do que isso, é o próprio princípio gestador e criador do Universo e da Natureza, abrangendo TAMBÉM o ser mulher, e logo, o ser homem, os animais machos, pois tudo provém do Feminino e tudo o contém, todo macho nasceu de uma fêmea, até mesmo em nossos genes se pararmos para uma reflexão: Por que mulher XX e homem XY, em vez de YY?




Com o desenvolvimento de uma religiosidade um pouco mais elaborada nas civilizações, quando os humanos passaram a reunirem-se em tribos e formarem famílias e comunidades foi muito explorado nas mulheres os dons espirituais (clarividência, clariaudiência, psicofonia, incorporação, vidência através de oráculos, cura, etc), é aí que surge a ideia da Bruxa, da Velha Curandeira, e através das tradições orais mulheres foram passando de mãe para filha as sabedorias mais ocultas do feminino. Sendo a natureza feminina, quem haveria de ter o dom de manipulá-la? A mulher.

As civilizações tribais antigas possuíam, e algumas ainda possuem uma visão de mundo completamente diferente da urbana e atual, como se vivessem em uma espécie de dimensão diferente, pois sua religiosidade é tão enraizada que não existe a separação de profano e sagrado, todos os atos são sempre sagrados, é como se a sua psique funcionasse de forma diferente, e isso é algo que fica muito claro também nas narrativas de Carlos Castañeda. Então, além dos dons espirituais mais conhecidos pelos meios urbanos, era explorada também entre as mulheres a religiosidade e a sacralidade em atos hoje talvez considerados comuns como trançar os cabelos umas das outras, tecer e fiar roupas e acessórios (com suas grafias e desenhos igualmente sagrados), fabricação de artesanatos diversos para uso comum como cestos e utensílios de cozinha, o ato de cozinhar e até mesmo o ato sexual, entre outras práticas comuns.

E por diversas razões fundadas sempre no ego humano, o nosso grande opositor, o verdadeiro mal do mundo, o eu inferior (quando não devidamente "controlado"), o matriarcado caiu com o tempo e surgiu o patriarcado, não vou aprofundar nas razões nesse momento, pois pretendo discorrer melhor sobre esse assunto na série de artigos exclusiva sobre o Sagrado Feminino que virei a escrever em breve, mas podemos dizer que após essa transição a mulher de respeitada e honrada passou a mais do que nunca ser temida por seus poderes, o que resultou em anos de opressão, perseguição e violência, e foi aí que perdemos grande parte de nossa sabedoria oculta, perdemos o próprio respeito pelos nossos mistérios e muitas passaram a odiarem e rejeitarem os seus próprios corpos, sua menstruação, sua capacidade de conceber, a ideia de ser mãe, de cozinhar, porque a mulher foi tão diminuída nessas qualidades que a própria mulher não é capaz muitas vezes de ver a sacralidade nesses atos, que hoje causa até vergonha, a mulher hoje quer ser como o homem, porque o patriarcado faz parecer que o homem é superior, então a mulher raramente busca se empoderar em si mesma, mas na ideia de ser "igual" aos homens (sem entrar na questão da orientação sexual ou identificação de gênero diversa, pois são situações igualmente diversas, mas falo de mulheres heterossexuais que se identificam com o gênero mulher, mas frequentemente rejeitam o que é inerente ao feminino por conta da deturpação patriarcal, que faz-nos ver como as "Amélias" quando somos as mulheres "do lar").

Cada mulher é diferente em sua personalidade, há mulheres que gostam de aventura, de trabalho pesado, e há mulheres de personalidade delicada, e ambas possuem o Sagrado Feminino em si, os arquétipos das Deusas são totalmente diversos em quase todas as tradições, elas não seguem um padrão, assim como mulher nenhuma deve seguir um padrão, especialmente falando das tradições nativas brasileiras (as quais mais me afino), temos a Jurema representada como a Mãe Divina no culto de uma árvore sagrada, sua lenda conta a história de uma mulher guerreira, que foi Cacique de sua tribo e morreu sob a flecha que seria atirada no homem amado. Sobre essas questões quero dizer que a mulher pode ser o que for, que ela não deve se envergonhar e muito menos se diminuir por conta de trabalhos inferiorizados pela sociedade como "coisa de mulher", porque coisa de mulher é coisa muito sagrada, basta aprofundar e conhecer, e mais do que isso permitir-se e quebrar pré-conceitos.




Hoje o culto ao Sagrado Feminino vêm voltando muito forte, na Nossa Senhora da Conceição cultuada na doutrina do Santo Daime, nas Yabás de Umbanda e Candomblé, nas Deusas da Wicca e outras tradições mais voltadas a um Neoxamanismo ou Bruxaria, há quem diga sobre o efeito que isso têm sob a transição planetária e a ideia de uma Nova Era, onde o que reina é a igualdade para TODOS. Em muitas tradições vemos ao lado da divindade masculina uma mulher que representa o Amor Divino, o Amor por Deus, ou de Deus (Maria, Maria Madalena, Radharani, Tulasi Devi, Oxum, etc), só se chega a Deus pelo Amor (representado pela Mãe/Deusa), só se chega a Deus pela Deusa, o Feminino é a mais pura personificação do Amor na Terra e ele está vivo em todos nós.

O Sagrado Feminino retorna nos cultos Neoxamânicos nos círculos/rodas de mulheres através dos cantos, tambores e outros instrumentos musicais, dança circular e outras danças, partilha do cachimbo sagrado, partilha de vivências, conversa, palestras acerca de tratamentos naturais com ervas, rituais com a Sagrada Ayahuasca, Sagrado Rapé e de Temazcal (Tenda do Suor) só para mulheres, trabalhos de cura do Feminino, estudo de arquétipos inconscientes do feminino na forma de contos e histórias, reavivando também pinturas sagradas corporais de tradições indígenas, parto natural humanizado e ritualístico e muito mais.


Salve a nossa Grande Mãe Terra! Salve a Divindade Interior Feminina que nos habita!

Ryshy Kay Ará! _/|\_


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